reportagem especial

'Agora é espera. Torço para que o bebê não tenha toxoplasmose'

Pâmela Rubin Matge


Foto: Renan Mattos (Diário)
Desde as primeiras semanas de gestação, a família já prepara o enxoval e organiza tudo para o quartinho de Joaquim, que deve nascer no início do mês de outubro

O passar dos próximos 15 dias marcará a espera mais demorada da vida da dona de casa Danielle Xavier dos Santos, 26 anos. Na última segunda-feira, uma amniocentese - procedimento, que retira o líquido amniótico do abdôme materno - revelará se o filho que ela carrega no útero há 21 semanas foi contaminado pela toxoplasmose. Danielle recebeu o diagnóstico de que estava com a doença no dia 13 de março, bem antes da divulgação de que Santa Maria presenciava uma condição de surto, em 19 de abril.

Danielle é personagem de uma reportagem especial sobre o surto de toxoplasmose em Santa Maria. Veja a história de Andressa Rodrigues uma das três grávidas que perdeu o bebê em decorrência da toxoplasmose e como Santa Maria pode se tornar referência nacional em atendimento à doença.

Atendida na Unidade Básica de Saúde (UBS) Joy Bets, foi encaminhada para o atendimento de pré-natal de alto risco no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm). Um mês depois, precisou, ficar internada por quatro dias, devido à permanência dos sintomas. Segundo a jovem mãe, é impossível não dizer que se trata de uma gestação diferenciada. A rotina requer cuidados que vão desde a ingestão de medicações - atualmente são seis comprimidos (espiramicina) três vezes ao dia - além do maior desafio, que é manter o autoequilíbrio em meio a um surto:

- Antes de saber que era um surto eu já estava nervosa. Eram muitas dores de cabeça e enjoo. É meu primeiro filho. Grávidas ganham peso. Eu, em três meses, emagreci 10 quilos. Mas o maior medo sempre foi em relação ao bebê. Fui ler e soube que ele poderia ter problemas de formação e de visão. Em seguida, começaram as notícias na cidade. Me desesperei e optei por fazer a amniocentese. Foi bem dolorido, mas, depois (durante o ultrassom) de ouvir as batidas do coração do Joaquim, superou qualquer dor. Passo os dias tocando na barriga. Agora, é espera. Torço para que o bebê não tenha toxoplasmose e espero pelo resultado.


Foto: Renan Mattos (Diário)

Danielle é uma das 41 gestantes com toxoplasmose, conforme o último boletim, que também informa que há pelo menos 485 pacientes infectados em Santa Maria. Há registro de duas mortes fetais e dois abortos*.

Para a secretária municipal de Saúde, Liliane Mello Duarte, apesar dos números dos boletins, a doença está estabilizada, o que não significa que a fonte de contaminação não esteja ativa. Ela assegura, que o município trabalha para cuidar de suas grávidas e bebês. Mas relativiza a doença e divide responsabilidade:

- Crianças com toxoplasmose já nasciam antes e eram acompanhadas. É mais uma doença, assim como temos a gripe A, a chikungunya. Nós (saúde do município) não somos plenos em atendimento, mas damos os encaminhamentos. Nós cuidamos, acolhemos, mas a responsabilidade de tratamento é do Estado e da Federação.

* O Ministério da Saúde considera aborto até 22 semanas de gestação. Já a denominação morte fetal vale para idade gestacional superior a 22 semanas.

ASSISTÊNCIA
Há quatro anos, uma gravidez ectópica (fora do útero) adiou o sonho da maternidade da jovem, que evita falar sobre o assunto. Há cerca de dois anos, quando o marido de Danielle, Paulo Marafiga, 25 anos, foi hospitalizado, após um acidente, descobriu que uma lesão que tinha em um dos olhos era em decorrência da toxoplasmose. Tempo depois, foi ela quem se contaminou.

A doença, ainda sem origem de contaminação descoberta, tem preocupado milhares de pessoas em Santa Maria. Foi transmitida pela água? Ou pela carne? De quem é a responsabilidade?

A curiosidade que emerge da população diante de um surto de tamanha magnitude, e que aumenta em número de casos a cada semana, só não é maior que a expectativa do nascimento do primeiro filho. Em uma casa do Bairro Salgado Filho, Região Norte, o enxoval e os móveis de Joquim já têm lugar reservado no quarto e na família de Danielle, que quer, apenas, a dignidade de uma assistência em saúde para ela e para o filho.

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